quarta-feira, 30 de abril de 2008

exposição frente e verso

Está patente, na galeria do Diário de Notícias até 28 de Maio, uma exposição do ilustrador André Carrilho que aconselho a visitar.
Pode ser lido mais sobre o autor e a exposição aqui.



terça-feira, 29 de abril de 2008

"a sua identificação?"

Há coisas incríveis. A esquadra de Moscavide foi ontem notícia por apenas ter um agente no seu interior, numa situação em que entraram lá indivíduos, agrediram-se e tudo e não foram identificados (porque só havia um polícia). Fui tirar fotos à esquadra (exterior) e... qual a minha surpresa, quando me pediram identificação! Depois de eu ter dito para o que era. Realmente, acho que sim. Os que causam confusão e praticam agressões não dá para identificar, é mais complicado, admito. Uma simples jovem a tirar fotos ao exterior da esquadra sim. Há que pedir identificação que aponte para o órgão no qual trabalha (é que não dava o BI). Há coisas fantásticas que me deixam surpreendida.

Será que o sr. agente foi averiguar no jornal de hoje a notícia e respectiva foto? para confirmar que não se trata de uma bandida, bombista, ou algo dessa natureza. Acho que sim. Há que ter cuidado com essas meninas que por aí andam a passear máquinas fotográficas e que tiram fotos a coisas improváveis.

Também podem checar aqui.

sexta-feira, 25 de abril de 2008

feriado

Primeiro feriado a trabalhar.

O meu grito de liberdade de hoje: deixar a redacção por quinze minutos e comprar um gelado num carrinho no marquês. Comer um daqueles cones com duas bolas de gelado colorido que só se vê na rua e nas feiras.

Enquanto acabo o meu gelado à porta do trabalhito, um senhor passa por mim: "para os jornalistas não há 25 de Abril, têm de trabalhar todos os dias". Pois, não sendo jornalista, naquele caso era como se fosse, e não pude deixar de concordar com ele.

quarta-feira, 23 de abril de 2008

confusão

Estou com receio de estar a ficar senil. Hoje dei por mim sem saber que dia da semana era. Grave. Parecia que já estava a meio da semana ou mais. Como é possível? Ainda ontem foi 2f. Estranho. Algo que fiz ontem parece já ter sido feito na semana passada.

Hoje fotografei a Marta Crawford. Talvez coloque alguma foto aqui mais tarde.

Amanhã é outro dia.

terça-feira, 22 de abril de 2008

a realidade é crua

Hoje o post não é do género diário. Hoje apetece-me escrever sobre algo que não tem necessariamente a ver comigo.

Insatisfação no trabalho. Quantos portugueses existirão sem vontade de levantar de manhã para ir para o trabalho?
Julgo que o conformismo e a habituação falam mais alto. As pessoas não estão satisfeitas com o que fazem mas precisam de o fazer. É tão normal ouvir-se falar mal do trabalho.

Acho que isto é (um pouco) aceitável quando se trata de pessoas que não têm opção, que fazem o que fazem porque não tiveram hipótese de estudar ou lutar por outra coisa. Mas custa-me pensar nos casos em que se estuda, se luta por algo e não se obtém o desejado. Quando se diz que o total não é igual à soma das partes, estamos a falar disto também. Não é por se somar o trabalho, a dedicação e a vontade que se consegue estar feliz profissionalmente. E isso acontece tanto. E há tantas injustiças. Há, por exemplo, os professores que são muitos. Ou os psicólogos. Ou os jornalistas. Ou tantos outros milhares que não podem fazer aquilo que desejam.

Agora que ando mais de metro reparo mais nas expressões de desconhecidos no seu dia-a-dia. O cansaço. A apatia.

sábado, 19 de abril de 2008

resumo da semana

Já passaram 2 semanas no novo trabalho. Já não passo o dia a ver fazer. Já faço parte do stress da redacção. Começo a dar o devido valor ao fim-de-semana.

Estou a fazer o fecho do DN sport, que sai à 6f e ao sábado. Fazer o fecho significa procurar, encontrar e escolher as fotos para o tal suplemento. Dou por mim a procurar nomes que nunca ouvi falar (do basket, do snooker, etc). Mas é preciso.

Esta semana não fiz muitos clicks na máquina (foi mais no teclado). Fiz duas entrevistas (uma a acompanhar um fotógrafo e outra sozinha).



A foto é do livro, editado em português, de Anselm Jappe, o filósofo a quem tirei fotos. O senhor em segundo plano não é ele.

quarta-feira, 16 de abril de 2008

aprendi que..

O snooker que jogo não é snooker a sério.
O snooker a sério (acho q é inglês) é jogado em mesas de 4m por 2,80m e não tem bolas listadas e cheias. O snooker a sério tem bolas vermelhas e depois tem uma azul, uma rosa, uma castanha, uma amarela, uma verde, uma preta e a branca. Há poucos sítios em Lisboa onde se jogue.

sábado, 12 de abril de 2008

em Elvas

Talvez o mais interessante da semana tenha sido a ida a Elvas, na 5ªfeira. Sem fotógrafos disponíveis, calhou a mim a missão de ir ao novo complexo funerário de Elvas que iria inaugurar no dia seguinte. De manhã lá fomos (eu e uma jornalista) rumo ao Alentejo. "Oh Elvas, oh Elvas, Badajoz à vista".
A primeira impressão não tinha sido a melhor. A dita jornalista chegou à secção da fotografia, onde eu a esperava e nem bom dia, nem olá, nem nada. Quase tremi nessa altura e pensei: isto não vai ser fácil. Depois, a caminho do carro, perguntou-me: "não era o Gonçalo que ia comigo?" Bah. Engoli em seco e respondi: "sim era, mas ele não pôde e calhou-me a mim". E pensei: "ok... podias disfarçar um pouco a desilusão, sim, o Gonçalo é giro e tudo mas...".
Não nos conhecíamos e demorou um pouco para "quebrar o gelo" e começar a conversar sobre qualquer coisa. Não poderíamos ir mais de duas horas no carro sem falar. Até porque o rádio não era muito certo dos fusíveis e só volta e meia é que tocava. Como tento ter sempre perguntas a fazer, lá fui chutando aqui e ali qualquer coisa com algum nexo. A conversa lá ia surgindo aqui e ali nem que fosse: "hmm aquilo ali ao fundo é o céu ou são as nuvens (escuras)?". Eram de facto nuvens e estávamos a caminhar para o mau tempo. Olhávamos para trás e estava um céu azul lindo, à nossa frente tudo cinzento. Apanhámos chuva. Volta e meia: "hmm parece que á está a melhorar.." Mas começava de novo a chover e não havia grandes indícios de melhorias. Já não falávamos em melhorias de tempo porque nem valia a pena. Parece que o mau tempo nos perseguia.
Chegámos a Elvas e lá encontrámos o cemitério e o tal complexo funerário. Ainda estava em obras, foi-nos feita uma visita guiada. Ao pensar naquilo penso que de facto não há limites para a imaginação empreendedora. Salas com todos os luxos, onde predomina a madeira e a pele, para os velórios. A urna fica numa divisão com paredes de vidro, as pessoas podem ficar confortavelmente na sala (num sofá de pele) e podem ver o ente querido morto que se encontra lá na tal divisão.
O à-vontade com que os senhores nos explicavam os pormenores do negócio faziam-me por vezes arrepiar. A sala que permite cuidar das mãos e da cara dos mortos, pois são os mais expostos, o frigorífico que conserva até três corpos a não sei quantos graus. A sala onde os corpos são cremados que tem um vidro que possibilita que as pessoas possam assistir do exterior, até dado momento, depois o vidro é baço e não deixa ver o corpo a entrar no forno. De vez em quando olhávamos uma para a outra e tentávamos dizer com o olhar: "isto é sinistro".
Uma das coisas que mais me impressionou foi a panóplia de potes que estão disponíveis. Formas, feitios e cores à escolha do freguês. Para quê? Para guardar as cinzas do ente querido morto e levar para casa. A caminho para cá comentámos muito isso. Achamos sinistro guardar alguém num pote (mesmo que seja de pedra e em forma de pirâmide), em casa. Devemos aproveitar e mimar as pessoas em vida, aproveitar cada momento vivido em conjunto, não é com um velório de luxo que mostramos o quanto gostamos de alguém.

Em baixo está uma foto onde se vê, do lado de dentro a capela, do lado de fora, o jardim onde podem ser depositadas as cinzas (quando não se levam para casa) e ao fundo a igreja.




O artigo pode ser lido aqui. As fotos foram usadas numa infografia, por isso aparecem um pouco pequenas. Na net é um pouco complicado percebê-las. No jornal, com a ajuda de uma lupa, estão totalmente perceptíveis.

Decidi acrescentar umas palavras a este post:
Uma amiga depois de ler o post disse que se ficava com uma má ideia da jornalista. Que seria antipática e tal. Tal não é verdade. Peço desculpa por ter transmitido isso. Depois percebi o porquê da "má-disposição" matinal, que não vou aqui descrever. Acho que é porreira, tem uma paixão pela fotografia como eu, temos opiniões parecidas no que diz respeito aos mortos, etc. As horas que passámos em trabalho foram bastante agradáveis.
Ah, e não é pelo Gonçalo ser giro que ela perguntou por ele.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

2º dia. pânico

Nem sei por onde começar a descrever esta nova experiência. Ainda tudo é estranho. Ainda não me ambientei ao local e às pessoas. Ainda passo 90% do tempo a ver fazer. Mas estou a gostar.
Hoje tive um desafio enorme. Já ontem tinha saído para tirar fotos mas a acompanhar um fotógrafo e até acabou por não dar muito resultado, chegámos uns minutos atrasados e já não deu para tirar as fotos que era suposto. Mas hoje, fui sozinha (com um jornalista, novito). Já tinha visto na agenda esse trabalho e por acaso tinha pensado "ah, era porreiro fazer isto". Mas nunca pensei que fosse para ir sozinha. Mas disse que sim e lá fui a tremer por todo o lado. A princípio a indicação era a de um ensaio da banda gnr com a GNR. Mas afinal não era ensaio. Era uma conversa informal para a imprensa. Pânico.
Apanhámos um táxi e lá fomos nós. Sair do Marquês em dias de chuva é o caos. Trânsito, trânsito e mais trânsito. Chegámos ao quartel da GNR passavam uns 2 minutos da hora marcada. Não era ali! Era no quartel do exército, ao fundo da rua. Entretanto já tínhamos deixado fugir o táxi e não podíamos apanhar outro porque só tínhamos mais uma viagem e era para voltar para a redacção. Chovia. Aquilo ainda era longe. Tentámos apanhar boleia com alguém que saísse dali mas sem sorte. Ok, não havia tempo, vamos lá tentar apanhar um autocarro. Chegados à paragem, sem autocarro, olhamos um para o outro e.. "ok, é melhor ir andando a pé". À chuva. Sem chapéu, claro.
Chegámos um pouco molhados. E afinal ainda não estávamos atrasados, ainda não tinha começado. Boa, menos mal.
Bem, depois veio o pânico. Sala escura, cheia de coisas. Fotógrafos com grandes máquinas e flash, claro. A Sara ia com uma D80 e sem flash. O Rui Coutinho já me tinha avisado para usar 800 de iso. Mas, nem assim dava, tive de subir aos 1000. Era um de cada vez a tirar as fotos. Eu fiquei para último e ia vendo o pessoal. Um até usou 2 flashs externos. Quando chegou a minha vez, pedi para irem para o fundo da sala e acender umas luzes que lá havia. Pânico. Eles estavam fartos de fotos, queriam era despachar aquilo. Mas eu lá disse "ah, é o meu primeiro trabalho...", então eles lá foram mais pacientes. O maestro da GNR ainda brincou: "que azar que teve, calhar logo isto, mas olhe, diga lá que se não ficar bem a culpa foi nossa". Lá tirei umas quantas, de ângulos diferentes e tal mas a coisa não estava a correr lá muito bem. Entretanto ouvi "mas a miúda nunca mais acaba?". "Sim, estou quase" disse, não estava mas tive de passar a estar, pensei: ok, como ficar, ficou, vou ser despedida.
Depois houve tempo para os jornalistas falarem com eles, eu fui tirando umas fotos às pautas que por lá estavam e a ver o que tinha conseguido. Nada de especial. Estava preocupada.
Acabou a conversa com os jornalistas e ainda fomos ao quartel da GNR para tirar mais umas fotos. Na rua a luz já estava melhor mas agora o problema era a ameaça de chuva e o pouco tempo.
Bem, em conclusão, amanhã vou ter uma foto no DN, a primeira desde que por lá trabalho mas, não me consigo orgulhar muito dela porque sei que não está nada de especial. Espero que da próxima corra melhor.

A primeira é a que sai amanhã.



sexta-feira, 4 de abril de 2008

a brochura



Chegaram da gráfica as brochuras. Foi bom ter nas mãos pela primeira vez o trabalho com maior visibilidade destes 9 meses, logo no meu último dia. O estágio não se resumiu, de longe, a isto mas é o que posso trazer comigo e para o que posso olhar sempre que tiver saudades. Foi onde mais me aproximei de ser designer e me desafiou em termos de fotografia. Só o facto de saber que vai ser vista por tanta gente me deixa contente, sinto que fiz algo útil.
Na foto é possível ver (em primeiro plano) as páginas que mais gostamos (a equipa gabcom), mais atrás está a capa e em baixo outras duas páginas.

Em breve a brochura circulará nas escolas secundárias das redondezas. Espero que os miúdos cuidem dela com carinho.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

prémio de fotojornalismo da Visão

Entrega de prémios de fotojornalismo. O maior prémio português desta natureza.

Muitas pessoas a assistir. Alguma ansiedade. Eu, pelo menos, que nem tinha nada a concurso estava ansiosa para ver as fotografias e conhecer os vencedores. E não vou criar suspense, o grande vencedor foi Augusto Brázio, com uma fotografia do trabalho que fez acompanhando as equipas do INEM.
"O júri distinguiu ainda Rodrigo Cabrita (DN), por uma reportagem sobre sem-abrigo; João Carvalho Pina (Kameraphoto), por uma reportagem no Afeganistão; Bruno Simões Castanheira (JN), na categoria Vida Quotidiana; Vasco Neves (DN), por um retrato do Presidente da República; Nacho Doce (Reuters), na categoria Espectáculo; Nocloas Asfouri (Agence France Press), por uma fotografia da Red Bull Air Race, no Porto; e Eduardo Barrento (freelancer), na categoria Natureza."
(retirado do blog Arte Photográfica)

Não conhecendo as fotografias que estavam a concurso, gostei das vencedoras. O grande prémio mostra uma jovem de 19 anos que acaba de ter o seu 3º filho. É notório o sentimento de protecção da mãe perante o filho e também do próprio INEM por ambos (pela mão que lá aparece).

O que mas notei foi a presença de fotógrafos freelancer nos vencedores. O que quererá dizer?
Ver a galeria de fotos vencedoras aqui.



Depois da entrega de prémios houve espaço a algum convívio. Alguns petiscos e bebidas. Eu e a minha amiga que me acompanhou estabelecemos uma relação de simpatia com um dos senhores que circulavam por lá com as bandejas de comida. Tudo começou com a bandeja dos salgadinhos. Depois de ver passar bandejas com coisas bonitas mas pouco apetitosas, ao chegar a dos salgadinhos, não resisti e comi uns dois (ou terão sido três?). A partir daí o senhor mostrou-se uma simpatia. Fomos muito bem servidas, experimentámos quase de tudo e repetimos. Comemos também os docinhos porque o senhor fazia questão de se dirigir primeiro a nós e nos oferecer com toda a simpatia o que de mais bonito tinha a sua bandeja. "Tirem esses aí do meio, são muito bons. Experimentem lá. Olhem que só há dois." Os docinhos não eram lá muito bons e resolvemos tirar o gosto daquilo com um pouco de arroz que por lá havia nuns pratos minúsculos. Quando o senhor voltou ao pé de nós, disse-nos: "já estão a jantar...". Ainda pensei que estaria a querer dizer que estávamos a comer muito e que deveríamos parar mas, surpreendentemente, ofereceu-nos mais um docinho: "tirem estes aqui do meio, são muito bons." Ok, para não fazer a desfeita ao senhor, lá experimentámos mais um docinho. Arroz doce. Eu não gosto de arroz doce mas como o senhor tinha sido tão querido, não poderia deixar de comer. Sim, já estava jantada. Petiscando aqui e ali salgadinhos, fruta, arroz (não sei bem com quê), docinhos e uns três copos de sumo de laranja, já tinha jantado. E o senhor sabia-o.



O Prémio Fotojornalismo Visão Bes está de parabéns por destacar o que de melhor se faz por cá. Os fotógrafos participantes também, por se dedicarem a esta profissão, e o DN por ter arrecadado alguns prémios.
O senhor do buffet igualmente, pela sua simpatia.

quarta-feira, 2 de abril de 2008

conversas de mãe #1 - euromilhões

Como um blog também deve servir para escrever (por vezes) tretas, vou transcrever um pouco da conversa de hoje com a minha mãezinha:

Mãe - ai se ao menos me saísse o Euromilhões. Saía daqui, deixava de trabalhar e passeava.
Eu - Ah, eu só queria um duplex num sítio fixe, não me importava de ter umas férias porreiras mas queria trabalhar normalmente depois..
Mãe - o quê? querias andar de um lado para o outro feita maluca a tirar fotografias?
Eu - Claro que sim! Mas isso nem se pergunta.

(...)

Mãe - ah, mas comprava assim uma casa ao pé da tua depois.
Eu - ao pé da minha? oh para quê? não, não quero. podias ir para um sítio sossegado, olha comprar um monte no Alentejo como o pai tanto gostava, e eu cá fico.
Mãe - oh... podia não estar cá sempre mas vinha cá passar uns tempos. e depois com os netos.. ficava perto deles.
Eu - netos? oh mãe mas eu nem sei se vais ter netos!
Mãe - o quê?? não digas babuseiras. a gente não diz essas coisas. agora não ia ter netos. vou sim.
Eu - ah não sei não.

Do que a minha mãe se vai lembrar! E, quando dizem: "o dinheiro não traz felicidade", até é bem capaz de ser verdade, a nós ia trazer algumas dores de cabeça.

Mas ela vai continuar a jogar no Euromilhões! ah, e o meu pai também joga.

terça-feira, 1 de abril de 2008

fotojornalismo e o prémio Visão

Dia das mentiras. Podia inventar para aqui uma mentira qualquer mas todos iriam perceber que era mentira e pronto. Não iria ter grande piada. Hoje vou escrever sobre um tema sério.

Vou começar por escrever um pouco sobre o Prémio Visão de Fotojornalismo. Em conferência de imprensa o júri deste ano levantou algumas questões que devem preocupar todos aqueles que gostam do fotojornalismo. Cada vez é mais difícil fazer um bom trabalho. Cada vez menos os meios de comunicação investem em fotógrafos para fazer um bom trabalho. Não lhes dão tempo para cobrir um assunto e, segundo diz o director do "Visa pour l'Image", Jean-François Leroy, não é por questões financeiras, "dizem que não têm dinheiro, mas não é verdade, porque pagam muito bem por fotografias de celebridades como o George Clooney, mas não querem saber da Chechénia".
Custa-me acreditar e verificar isto.

Outro dos assuntos levantados tem a ver com a democratização da fotografia. Todos os que têm uma máquina fotográfica digital podem tirar fotografias e difundi-las muito facilmente. "Depois não sabemos muitas vezes quem são as pessoas, qual é a situação, o seu contexto, o que está realmente a acontecer. E este é um grande perigo, quando as pessoas acreditam no que vêem", refere Philip Blenkinsop.
Sim, de facto isso já há algum tempo que me preocupa, a banalização da imagem.

Por fim, a relação do fotojornalismo com a galeria. "O fotojornalismo não é feito para galerias. É perverso vender fotografias com pessoas a sofrer e é obsceno comprá-las. Primeiro que tudo somos jornalistas, não somos artistas, e trabalhamos para a imprensa, não trabalhamos para galerias", refere Jean-François Leroy, que assegurou que enquanto for director do "Visa pour l'Image", nenhuma fotografia será vendida.
Concordo que não sejam vendidas nem compradas fotografias desta natureza.

Aproveito, no entanto, para dar a minha opinião sobre um tema também normalmente discutido- os concursos de fotojornalismo. Concordo que sejam feitos concursos (e posteriores exposições) como o World Press Photo e o nosso Prémio Visão. Não considero que seja ganhar mérito com o sofrimento dos outros. Julgo que é uma forma de mostrar ao mundo que aquilo existe, na esperança que isso possa servir para mudar alguma coisa. Ver uma exposição desta natureza é quase um murro no estômago, é. De facto, custa, choca, dói. Lembro-me de algumas imagens quando escrevo sobre isto. Meninos sem braços, sem pernas, o desespero e o sofrimento estampado na cara de tantas pessoas. Guerras, guerrilhas, ou acidentes da natureza. Seja causado pelo homem ou pela natureza há milhares, milhões, não sei ao certo, de pessoas a sofrer neste preciso momento. São, principalmente, as fotografias que nos fazem ter consciência disso. Eu, pessoalmente, talvez não possa mudar muita coisa, mesmo tendo a consciência de tudo isto. Mas posso, podemos todos, de alguma forma, aprender com isso. Aprender a relativizar as pequenas coisas que nos acontecem. Não fazer dramas quando não se justifica. Não desperdiçar o que temos. Não nos queixarmos tanto da vida que vivemos, pois sabemos (vimos isso através destas fotografias) a vida miserável que tantas pessoas têm. É o mínimo que podemos fazer.
Ah, outra coisa que me lembrei entretanto, às vezes dizem-me: "mas e aquelas pessoas que são retratadas não têm direito a escolher se querem aparecer ou não?". Eu respondo: será que elas não querem que o mundo saiba como vivem? as injustiças que sofrem. Será que preferem que sejam esquecidas (ou nunca lembradas) ou que todos possamos ver que aquilo é real e que é necessário que sejam ajudadas?


5ª feira lá vou eu assistir à entrega de prémios do Prémio Fotojornalismo. Estou ansiosa para ver as fotografias a concurso e as vencedoras.