sábado, 12 de abril de 2008

em Elvas

Talvez o mais interessante da semana tenha sido a ida a Elvas, na 5ªfeira. Sem fotógrafos disponíveis, calhou a mim a missão de ir ao novo complexo funerário de Elvas que iria inaugurar no dia seguinte. De manhã lá fomos (eu e uma jornalista) rumo ao Alentejo. "Oh Elvas, oh Elvas, Badajoz à vista".
A primeira impressão não tinha sido a melhor. A dita jornalista chegou à secção da fotografia, onde eu a esperava e nem bom dia, nem olá, nem nada. Quase tremi nessa altura e pensei: isto não vai ser fácil. Depois, a caminho do carro, perguntou-me: "não era o Gonçalo que ia comigo?" Bah. Engoli em seco e respondi: "sim era, mas ele não pôde e calhou-me a mim". E pensei: "ok... podias disfarçar um pouco a desilusão, sim, o Gonçalo é giro e tudo mas...".
Não nos conhecíamos e demorou um pouco para "quebrar o gelo" e começar a conversar sobre qualquer coisa. Não poderíamos ir mais de duas horas no carro sem falar. Até porque o rádio não era muito certo dos fusíveis e só volta e meia é que tocava. Como tento ter sempre perguntas a fazer, lá fui chutando aqui e ali qualquer coisa com algum nexo. A conversa lá ia surgindo aqui e ali nem que fosse: "hmm aquilo ali ao fundo é o céu ou são as nuvens (escuras)?". Eram de facto nuvens e estávamos a caminhar para o mau tempo. Olhávamos para trás e estava um céu azul lindo, à nossa frente tudo cinzento. Apanhámos chuva. Volta e meia: "hmm parece que á está a melhorar.." Mas começava de novo a chover e não havia grandes indícios de melhorias. Já não falávamos em melhorias de tempo porque nem valia a pena. Parece que o mau tempo nos perseguia.
Chegámos a Elvas e lá encontrámos o cemitério e o tal complexo funerário. Ainda estava em obras, foi-nos feita uma visita guiada. Ao pensar naquilo penso que de facto não há limites para a imaginação empreendedora. Salas com todos os luxos, onde predomina a madeira e a pele, para os velórios. A urna fica numa divisão com paredes de vidro, as pessoas podem ficar confortavelmente na sala (num sofá de pele) e podem ver o ente querido morto que se encontra lá na tal divisão.
O à-vontade com que os senhores nos explicavam os pormenores do negócio faziam-me por vezes arrepiar. A sala que permite cuidar das mãos e da cara dos mortos, pois são os mais expostos, o frigorífico que conserva até três corpos a não sei quantos graus. A sala onde os corpos são cremados que tem um vidro que possibilita que as pessoas possam assistir do exterior, até dado momento, depois o vidro é baço e não deixa ver o corpo a entrar no forno. De vez em quando olhávamos uma para a outra e tentávamos dizer com o olhar: "isto é sinistro".
Uma das coisas que mais me impressionou foi a panóplia de potes que estão disponíveis. Formas, feitios e cores à escolha do freguês. Para quê? Para guardar as cinzas do ente querido morto e levar para casa. A caminho para cá comentámos muito isso. Achamos sinistro guardar alguém num pote (mesmo que seja de pedra e em forma de pirâmide), em casa. Devemos aproveitar e mimar as pessoas em vida, aproveitar cada momento vivido em conjunto, não é com um velório de luxo que mostramos o quanto gostamos de alguém.

Em baixo está uma foto onde se vê, do lado de dentro a capela, do lado de fora, o jardim onde podem ser depositadas as cinzas (quando não se levam para casa) e ao fundo a igreja.




O artigo pode ser lido aqui. As fotos foram usadas numa infografia, por isso aparecem um pouco pequenas. Na net é um pouco complicado percebê-las. No jornal, com a ajuda de uma lupa, estão totalmente perceptíveis.

Decidi acrescentar umas palavras a este post:
Uma amiga depois de ler o post disse que se ficava com uma má ideia da jornalista. Que seria antipática e tal. Tal não é verdade. Peço desculpa por ter transmitido isso. Depois percebi o porquê da "má-disposição" matinal, que não vou aqui descrever. Acho que é porreira, tem uma paixão pela fotografia como eu, temos opiniões parecidas no que diz respeito aos mortos, etc. As horas que passámos em trabalho foram bastante agradáveis.
Ah, e não é pelo Gonçalo ser giro que ela perguntou por ele.

7 comentários:

Vanessa disse...

Huuu~~~~ º-º
Tem um ar engraçado, para complexo funerário.

Até nisto os nomes são mais complexos.. :P

S.Y.Rodrigues - disse...

Quem é esse gonçalo? é pá, tens que mo apresentar:P..na só tou no gozo!
mas quanto ao ser sinistro guardar corpos de pessoas em potes, concordo! Eu cá quero que as minhas cinzas sejam espalhadas pelo Oceano Atlântico ou Pacífico...ainda estou a decidir:)

Anónimo disse...

Confesso que não me preocupa muito o meu destino depois de bater a bota, mas acho que gostava de ser guardada num potinho de madeira com versos escritos a tinta da china e depois enterrada debaixo de um plátano ou de outra árvore bonita. Assim no meio de um campo verde. Sim, acho que combina comigo. Se calhar até tenho pensado um bocadinho nisso...

Sara M. disse...

sílvia,

lá tb há uma opção parecida com essa que dizes. eles depositam as cinzas numa coisa que contém umas sementes, planta-se isso e depois nasce uma árvore, claro que não nasce das cinzas, mas estas estão lá perto. não sei se me faço entender.
não há limites para a imaginação neste "negócio".

mississippi blind joe disse...

aqui a morrrer é fashion :)




(este é o meu pseudonimo no mundo dos blogs ( pedro) ))

Anónimo disse...

Desculpa a invasão no teu blog.... Sara m. o que esta a falar é o Bio, que realmente é para ser enterrado e dai nascer uma árvore, e o que a Silvia fala, é mesmo um pote para urnas, ou seja um bau, urna caixa, como lhe queiram chamar, que até é decorativo.
bjinhos
Xana

Anónimo disse...

Esqueci-me de uma coisa, a S.Y.rodrigues quer as cinzas espalhadas pelo oceano, pois bem não é assim tão fácil, porque não é permitido, por causa de questões ambientais, é sim permitido uma das "urnas" propria que se atiram ao mar com as cinzas lá dentro, claro com a corrosão tudo se desfaz..... Mas espalhar mesmo não é legal.