há algum tempo que estou para escrever sobre isto, máquinas fotográficas que filmam, fotógrafos que são pressionados a filmar.
ando nisto há muito pouco tempo mas desde que comecei que sinto que algo está para mudar. acho que entrei na fase de transição (querendo isso dizer não sei bem o quê ao certo). não vivi, infelizmente, o fotojornalismo duro, o a sério. na verdade, acredito que nunca irei saber o que isso é (ou foi). a altura em que cada foto era muito mais pensada, eram contadas, havia "x" rolos para gerir, um fotojornalista era um fotojornalista, ponto. comecei no tempo em que tudo parece mais fácil, é igual fazer 30 ou 300 fotos e quase toda a gente fotografa. talvez seja a democratização da fotografia a atingir o seu apogeu. isso assusta.
um jornal ou revista deixou de ser apenas isso e conta com mais que um suporte de comunicação. um jornal ou revista é também um site de informação, por exemplo. hoje em dia a fotografia não é apenas para ser publicada, a fotografia é também para o online, mas isso até é um pormenor. o online permite e pressiona para que seja mais que texto e fotografia. longe (muito longe) vão os tempos em que a rádio anunciava, a televisão mostrava e o jornal explicava. hoje em dia um jornal faz isso tudo. é imprescindível que assim seja. então como isso é ou pode ser feito? os órgãos de comunicação social já viram melhores dias em termos económicos mas por outro lado o trabalho é mais exigente e multidisciplinar. a solução? passa pelos profissionais se adaptarem a este novo mundo. um jornalista tende a ser cada vez mais multimédia. em termos práticos, um redactor ou um fotógrafo tem de filmar também. porquê? porque é necessário haver vídeo e não há dinheiro para contratar pessoas que apenas façam isso (isto muito resumidamente).
isso assusta. e assusta-me mesmo não tendo razão para isso, venho de um curso de audiovisual e multimédia. ao longo dos anos de faculdade percebi que o mercado estava a evoluir neste sentido daí a necessidade de haver um curso como o meu, por exemplo. sou desta nova geração multimédia. até acho que filmei mais do que fotografei enquanto estudava. mas quero especializar-me na fotografia. começo a cruzar-me com antigos colegas nos serviços, eles filmam, eu fotografo. eles não tiram fotografias, eu não filmo. até parece simples. eu acredito que nos podemos especializar numa área, mesmo tendo noções de outras. agora as máquinas fotográficas profissionais (ou semi-profissionais) já filmam. a médio prazo a tendência é para a fotografia ser um frame do vídeo e não adianta justificar muito isso. é óbvio. não é possível fotografar e filmar ao mesmo tempo. tendo o indivíduo filmado, é só escolher a melhor expressão. isto parece-me muito, mas muito, grave. onde fica o fotógrafo no meio disto tudo? onde fica a essência do seu trabalho? recolher aquele momento (decisivo) deixa de fazer qualquer sentido. (estou a ser demasiado pessimista, espero que não cheguemos a este ponto mas para lá caminhamos, acreditem).
podem perguntar-me "então porque não estudaste apenas fotografia?" por "n" motivos que não adianta enumerar aqui. gostei do curso, gosto de ter noções de mais áreas, abriu os horizontes e ajuda-me no dia-a-dia. tenho noções de web que me permitem, por exemplo, ter o meu site e actualizá-lo, o que não faz de mim nenhuma profissional nessa área como outros colegas que se especializaram nisso. não acredito que qualquer um de nós consiga ser realmente bom em mais do que uma área (ou talvez duas) mas a minha preocupação é que o mercado não procure a qualidade mas sim aqueles que consigam fazer mais do que uma coisa. já deixei claro que isso me assusta?
[acredito que isto passe completamente ao lado de quem não está por dentro do meio, de quem é apenas consumidor e "exige" uma resposta das novas funcionalidades da informação. mas queria que pensassem um pouco sobre isto pelo nosso ângulo.]