segunda-feira, 16 de março de 2009

paz ferreira



fotos sara matos


entrevista a Eduardo Paz Ferreira.


agora é mais frequente ouvir falar de assuntos que estão longe de (me) serem familiares. feliz ou infelizmente nunca me deixei envolver muito pelo que oiço porque me envolvo complemente no meu trabalho. não é que não me interesse pelo que as pessoas dizem, pelo que fazem e afins, a verdade é que quando estou a trabalhar, o enquadramento, a luz, o fundo, as expressões, ganham toda a importância, fico tão focada nisso que o resto fica para segundo plano.

julgo que é errado pensar-se que é mais fácil ser-se fotojornalista que redactor, é errado pensar-se que nós só fazemos uns cliques e pronto. durante uma entrevista, por exemplo, é certo que não estamos a seguir o raciocínio do outro, que não estamos a pensar em perguntas e a esperar a resposta certa mas também temos um trabalho intelectual. além de estarmos a pensar em tudo o que já referi, também costumamos antecipar mentalmente as fotografias que queremos fazer depois da entrevista, quando tivermos a atenção do entrevistado só para nós (o que nem sempre acontece). temos de pensar rápido quando estão prontos a posar para nós. temos de lidar com a pressa de quem "perdeu" uma hora com a entrevista e só pode perder 2 minutos com a fotografia. e o trabalho não acaba quando entramos no táxi e vamos a caminho da redacção, não. falta tratar as fotos e tomar consciência que não temos hipótese de tentar um outro click. às vezes olhamos para as fotos e pensamos que a ideal teria sido se tivessemos carregado no botão um milésimo antes ou depois. mas nada há a fazer. também quando confiamos no foco automático e a lente está meia tonta e desfoca o que não devia. enquanto o redactor pode fazer um telefonema e tirar uma dúvida em relação ao que vai escrever, pode reformular o texto, pode procurar outras fontes, nós temos ali o trabalho e só podemos contar com aquilo que fizemos naquela altura. o photoshop em fotojornalismo é uma ferramenta útil mas (ainda) não faz milagres (felizmente).

[isto é tudo em relação às entrevistas e escusado será dizer que este talvez seja o trabalho mais calmo que temos para fazer]

depois de tudo isto é importante pensar também que quem folheia um jornal, antes de olhar para as letras, vê a imagem. em alguns casos até é a fotografia que leva alguém a ler ou não o artigo.

convém também dizer que respeito imenso o trabalho dos redactores, que tenho uma admiração enorme por quem faz da fotografia uma arte e que não sei muito bem porque escrevi tudo isto. nada tem a ver com esta entrevista em particular.

2 comentários:

Analog Girl disse...

Há dias em que simplesmente sabe bem o desabafo. A necessidade de ser compreendida é imensa, mas não creio que haja aqui alguém que pense que o teu trabalho é fácil.

Adoro fotografia, e as tuas parecem-me sempre especialmente cuidadas e bonitas, mas acredito que hajam dias em que não gostas de nenhuma delas...
É assim uma profissão que vive de imagens...

Anónimo disse...

Bela reportagem.

Ergela